sábado, 8 de setembro de 2012

POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO


POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
Alexandre O´Neill

O medo vai ter 
tudo 
pernas 
ambulâncias 
e o luxo blindado 
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase
inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus
ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas
de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas
exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas
originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o
medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim
assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a
tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter
capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e
angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai
ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo
vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de
chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos