sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Os instrumentos financeiros derivados


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Chamaram-me a atenção para a entrevista acima colocada, dada por António Borges à BBC sobre os hedge funds. É bastante interessante ver a entrevista onde a defesa intransigente efectuada por António Borges da ausência de regulação destes produtos é completamente arrasada pelo entrevistador. É pena que a maior parte dos jornalistas televisivos portugueses não adopte este estilo incisivo de entrevistas, preferindo um estilo respeitador e até subserviente. O resultado é deixarem o entrevistado fazer afirmações extraordinárias, as quais não lhes suscitam sequer um comentário, quanto mais uma réplica.

O meu primeiro contacto com os intrumentos financeiros derivados foi na década de 90 quando me pediram colaboração para a preparação da legislação que estabeleceu o regime da tributação destas figuras. Tive então que estudar a fundo figuras como os futuros, os forwards, as opções e os swaps e a sua utilização para fins de especulação, cobertura e arbitragem. Já na altura fiquei perplexo com o elevadíssimo grau de risco que implicam estes produtos, o que levava a que para mim não passassem de contratos de jogo e aposta, apesar da sua qualificação geral como compra e venda de produtos financeiros. A meu ver, o investidor que adquire este tipo de produtos tem exactamente o mesmo comportamento daquele que aposta o dinheiro da empresa em Las Vegas, com a diferença de que em Las Vegas até normalmente perderá muito menos. Foi por isso com estranheza que na altura soube que estes produtos estavam a ser altamente usados na economia e que até no sector público se faziamswaps de dívida.

O que se passou em 1994, quando Nick Leeson conseguiu levar à falência o Barings Bank, uma instituição bancária com mais de 200 anos, perdendo na bolsa de derivados de Singapura 1,4 biliões de dólares, o dobro do valor do banco em bolsa, deveria ter servido de aviso a toda a gente para regular seriamente este tipo de produtos, limitando drasticamente a sua utilização. Nada disso se passou. Nick Leeson foi preso, servindo de bode expiatório, e este tipo de negócios continuou a fazer-se alegremente, permitindo o colapso total do sistema financeiro com a queda do Lehman Brothers. Não me admirou nada que ele na altura tivesse escrito este artigo perguntando a razão por ter sido o único preso por ter tomado a decisão de investir nestes produtos. Faz lembrar um programa cómico brasileiro da televisão de há muitos anos, em que se prendia um macaco por cometer um crime que estava generalizado. Ele, quando entrava na prisão e olhava para as celas todas vazias, perguntava ao carcereiro: "Mas só sou eu? Cadê os outros?".

É por isso com a maior perplexidade que vejo o surgimento de uma notícia como esta, da qual ninguém fala. Será possível que ninguém tenha ainda aprendido nada com o que se passou?