sábado, 27 de outubro de 2012

Corpo de mulher, brancas colinas, brancas coxas,


Corpo de mulher, brancas colinas, brancas coxas,
te fazem parecer o mundo na tua atitude de entrega.
O meu corpo de camponês selvagem te escava
e faz saltar o filho do fundo dessa terra.


Fui só como um túnel. De mim foram-se os pássaros
e em mim a noite entrava com a sua invasão poderosa.
Para sobreviver, forjei-te como uma arma,
como uma flecha no meu arco, como uma pedra na minha funda.


Porém, chega a hora da vingança, e amo-te.
Corpo de pele e de musgo, de leite ávido e firme.
Ah os vasos do peito! Ah os olhos da ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e triste!


Corpo da minha mulher, continuarás na tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limites, meu caminho
indeciso!
Escuros sulcos onde a sede eterna segue,
e segue a fadiga, e esta dor infinita.



Pablo Neruda
 

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